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Arquiteto japonês Sou Fujimoto descreve como imagina nossas casas no futuro

A mistura de natureza e arquitetura – ou, segundo ele, o que acontece entre uma e outra – proposta pelo arquiteto Sou Fujimoto se desdobra em conceitos cada vez mais desafiadores à medida que o japonês é chamado para desenhar novos projetos em diferentes pontos do planeta. Seja em suas residências que reinventam as noções de interior e exterior, seja nas obras públicas em que se permite experimentar ainda mais, Fujimoto mira no passado primitivo do ser humano para redefinir os espaços do futuro.

Às voltas com novíssimos projetos que ele adiantou para a plateia do Design Indaba, na Cidade do Cabo – entre eles , a provisoriamente batizada Casa da Música Húngara, em Budapeste, e um complexo multiuso em Paris – Fujimoto conversou com Casa Vogue sobre algumas particularidades do seu trabalho.

No Japão, de um modo geral, quase nada é deixado ao acaso – tudo é pensado ao extremo para que ninguém tenha que improvisar. Seus projetos, no entanto, parecem propor o oposto disso – você faz questão de afirmar que o importante é permitir que as pessoas escolham como usar o espaço. Seria essa uma forma de se contrapor à cultura do seu país? E talvez de se opor à ideia de controle total sobre o projeto, defendida por muitos arquitetos?

“Não é que eu queira me colocar contra nada, é só que faz bem manter esse campo aberto, onde as pessoas podem ser mais lúdicas e sim, improvisar o que fazem. Eu mesmo vivo assim, e pensar a arquitetura de uma maneira mais simples é muito animador. Mas acho que a vida contemporânea está ficando cada vez mais desse jeito, nós não precisamos mais ser definidos por algum conceito fixo, a todo momento novas coisas estão acontecendo e você pode se inspirar a partir delas. Acho que a riqueza da vida hoje está nessa diversidade, nessas muitas possibilidades”.

Bem, certamente você não está sozinho, suas casas mais famosas foram feitas no Japão, então deve ter gente lá pensando como você…

“Não muita! (risos) Felizmente temos alguns clientes legais, e recentemente não só no Japão, mas em outros países também. Eu acredito que no mundo inteiro há pessoas interessadas em aproveitar a vida de outra forma, e é isso que me deixa otimista sobre o meu trabalho”.

Nossas casas ainda terão salas de estar, jantar, cozinhas, banheiros, etc. no futuro?

“Uau! Talvez, talvez não…Talvez não precisemos ter essas funções tão definidas [para os ambientes]. Podemos ter coisas mais abertas, mais parecidas com paisagismo, onde seja possível brincar mais com a função de cada espaço. Mas é claro que, ao mesmo tempo, precisamos manter nossa privacidade…”

Então você se importa com a privacidade, no fim das contas?

“É claro! Eu gosto de trabalhar com gradações, daquilo que está lá no fundo até o que fica do lado de fora. E quando eu digo lá no fundo, estou falando de espaços privados, bem protegidos. Depois deles há outras áreas que vão ficando mais e mais abertas. Mas ideia é que você possa escolher – se realmente quiser ficar sozinho, meus projetos oferecem áreas de privacidade”.

E aquela casa que você estava projetando no Brasil, a quantas anda?

“Está andando. Tive boas conversas com o cliente, o projeto já mudou algumas vezes, mas isso é parte do processo”.

Um comentário

  1. Gael Castro

    A filosofia de Sou Fujimoto de uma arquitetura flexível e lúdica, onde os usuários podem “improvisar” o uso dos espaços, propõe uma reavaliação crítica das tipologias programáticas rígidas. Essa busca por “gradações” de privacidade, conforme ele menciona, demonstra a sofisticação necessária para conciliar a liberdade espacial com a funcionalidade, redefinindo a interface entre o interior e o exterior de forma que a ambiência do projeto não se torne disfuncional.

  2. Dr. Rhavi da Paz

    A filosofia de Sou Fujimoto, centrada na “gradação” entre o público e o privado, oferece uma solução sofisticada para a dialética da habitação contemporânea. Ao invés de impor uma dicotomia rígida entre interior e exterior ou entre ambientes funcionais definidos (sala de estar, jantar, etc.), ele propõe uma hierarquia espacial fluida. A menção de que ele “gosta de trabalhar com gradações, daquilo que está lá no fundo até o que fica do lado de fora” e que os projetos oferecem “áreas de privacidade” demonstra um entendimento profundo da psicologia do espaço. Esse conceito de transicionalidade é fundamental para acomodar a flexibilidade desejada pelos usuários sem comprometer a necessidade de reclusão, um desafio recorrente no design de planta aberta.

    O contraste que Fujimoto estabelece entre sua abordagem e a cultura japonesa de controle total sobre o projeto (“quase nada é deixado ao acaso”) sublinha uma crítica ao funcionalismo excessivamente rígido. A busca por um “passado primitivo” e a redefinição de espaços como “mais parecidas com paisagismo” reflete uma desconstrução das tipologias habitacionais herdadas do modernismo. Ao permitir que os usuários “improvisem” o uso dos espaços, Fujimoto não apenas desafia a autoridade do arquiteto, mas também reflete uma tendência sociológica de valorizar a adaptabilidade e a resiliência dos ambientes, alinhando a arquitetura com as demandas de um estilo de vida menos previsível e mais dinâmico.

  3. Valentim Pimenta

    A perspectiva de Sou Fujimoto sobre a flexibilidade e o lúdico na arquitetura, conforme evidenciado em sua ênfase na “gradação” entre o público e o privado, desafia diretamente o paradigma da arquitetura programática do século XX. Ao propor que as “funções tão definidas” dos ambientes domésticos não serão mais necessárias, Fujimoto advoga por uma arquitetura de indeterminação espacial. O projeto deixa de ser um sistema fechado de espaços predefinidos e passa a ser uma estrutura porosa que permite ao usuário “improvisar” e redefinir o uso do espaço no tempo. Esta abordagem reflete uma mudança do foco na funcionalidade rígida para a apropriação, que é particularmente relevante no contexto da “vida contemporânea” que ele descreve, onde a diversidade e as possibilidades são valorizadas em detrimento de “conceitos fixos”.

    No entanto, a implementação dessa filosofia em larga escala, especialmente em projetos complexos como o complexo multiuso em Paris que ele menciona, levanta questões sobre o equilíbrio entre a liberdade do usuário e a necessidade de infraestrutura de suporte. O desafio técnico reside em como conciliar a fluidez e a apropriação de espaços que se assemelham a “paisagismo” com as exigências de privacidade e a complexidade funcional de um edifício multiuso. A ênfase na escolha do usuário e na gradação de espaços privados protegidos até áreas mais abertas (“o que está lá no fundo”) sugere que Fujimoto busca uma solução que transcende a mera flexibilidade, propondo um sistema de porosidade controlada onde a indeterminação coexiste com a segurança e o conforto, redefinindo o que significa habitar no futuro.

  4. Laura Pires

    Poxa, o que mais me chamou a atenção no Fujimoto foi ele tocar nesse ponto de ir contra a cultura japonesa do “tudo pensado ao extremo” pra defender a improvisação. Parece que a filosofia dele (que ele chama de “simples”) é mais sobre como a vida *de fato* funciona hoje do que só sobre arquitetura. Ele fala que “nós não precisamos mais ser definidos por algum conceito fixo”. A gente tá sempre se reinventando, né? A casa tem que acompanhar essa vibe, permitindo que a gente mude as funções dos espaços o tempo todo, em vez de predefinir tudo.

    É bacana ver que, apesar de ele propor esses espaços mais abertos e “lúdicos” (quase como paisagismo, ele diz), ele ainda valoriza a privacidade. Ele usa o conceito de “gradações” do mais privado para o mais aberto. Isso é super importante, porque senão a casa vira um grande aquário. Essa mistura de flexibilidade pra improvisar com áreas de privacidade bem definidas parece ser o futuro da habitação. Curioso pra ver como ele vai aplicar essa ideia no projeto que ele tá desenvolvendo no Brasil, que ele disse que “já mudou algumas vezes”.

  5. Pedro Miguel da Luz

    A proposta de Sou Fujimoto de uma arquitetura que prioriza a improvisação e o “lúdico”, desafiando as funções fixas dos ambientes, é um contraponto instigante à cultura de planejamento extremo que ele descreve no Japão. No entanto, a ideia de abolir as funções definidas, como ele sugere (“talvez não precisemos ter essas funções tão definidas”), levanta dúvidas sobre a viabilidade prática em residências comuns. Embora a busca por espaços abertos e fluidos seja libertadora, ela precisa encontrar um equilíbrio com as necessidades pragmáticas e a funcionalidade básica de um lar, algo que o próprio arquiteto reconhece ao mencionar a importância da privacidade.

    *(Modelo 2 – mais curto, focado na contradição)*
    A visão de Sou Fujimoto sobre o futuro das casas, baseada na improvisação e na redefinição das fronteiras entre interior e exterior, é certamente uma ruptura com a rigidez cultural japonesa que ele menciona. Contudo, o questionamento sobre se ainda teremos “salas de estar, jantar, cozinhas, banheiros, etc.” (citando a entrevista) sugere uma abordagem idealizada. Embora a flexibilidade seja um valor, a funcionalidade prática de ambientes com propósitos definidos permanece crucial, especialmente em um contexto cultural onde a privacidade (que ele valoriza) é essencial.

  6. Dr. Erick Pastor

    É interessante como Fujimoto conecta sua visão de arquitetura — de espaços mais fluidos e menos definidos — com a própria evolução da vida contemporânea. Ele argumenta que hoje as pessoas não querem mais ser definidas por um “conceito fixo”, buscando inspiração na diversidade e nas muitas possibilidades.

    Essa abordagem não é apenas um estilo arquitetônico, mas um reflexo da mudança social onde a flexibilidade e o lúdico ganham mais espaço na rotina das pessoas. A ideia de “gradação” entre o público e o privado, que ele usa, é uma resposta sofisticada a essa demanda.

    Contudo, ele mesmo reconhece que essa mentalidade não é majoritária, nem mesmo no Japão, e que o desafio de convencer os clientes é real, como demonstrado pela complexidade do projeto brasileiro que “já mudou algumas vezes”. Isso mostra que a transição para essa arquitetura mais livre ainda enfrenta barreiras práticas.

  7. Calebe da Conceição

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